Nunca soube escrever cartas, principalmente uma de amor,
nunca soube começar uma. Talvez eu deva iniciar dizendo o quão lindo são seus
olhos, e que ao olhar para eles, sinto um pouco de medo por nunca saber o que
seu olhar quer me dizer. Ou talvez eu deixe isso para depois e comece dizendo
que seu abraço é o melhor do mundo, e que eu poderia ficar horas lhe abraçando,
pela calma que me causa. É, talvez eu comece dizendo isso. Depois eu iria falar
sobre esse seu sorriso que ilumina o meu dia. Na verdade esse sorriso
encantador ilumina o dia de qualquer pessoa.
Ah, eu não deixaria de falar daquela música que tocou naquele
barzinho que fomos naquele fim de tarde, porque começou a chover. Hoje é a
nossa música. Poderia encher esta carta de boas lembranças, mas não preciso
lembrar-lhe o inesquecível, sei que nossos momentos estão guardados aí com você,
nem que seja num espacinho bem pequenino, eu sei que estão.
Sabe do que mais eu posso falar? Do jeito que você se importa com
as pessoas, o jeito que você cuida e se preocupa, mesmo que elas não sejam tão
próximas. Mesmo que elas não mereçam, você nunca desiste, sempre está lá na
hora certa. Aliás, foi mais ou menos assim que nos conhecemos, lembra?
Alguns amigos me diziam que eu colocava você numa espécie de
pedestal, que eu não conseguia enxergar seus defeitos e que eu não sabia falar
outra coisa se não como você era engraçado, lindo, doce, amável, e todas essas
coisas que uma garota apaixonada fala do seu primeiro amor. Eles dizem isso
porque não sabe da história toda. E além disso, eu consigo enxergar sim, quer
ver só? Você é impaciente, teimoso e extremamente pontual (o que não é
necessariamente um defeito, mas você sabe que de pontual eu não tenho nada,
então vou incluir sua pontualidade na minha lista). Mas não são as qualidades,
mas sim os defeitos que tornam uma pessoa única e especial na vida da gente,
né?
Eu não deveria, mas poderia dizer o quão difícil está sendo escrever
essa carta, por não ter palavras que lhe descrevam suficientemente bem, ou por
não saber o que lhe dizer depois de tudo o que aconteceu. Então acho que vou
parar por aqui.
E por último, eu queria me desculpar por todas as promessas que eu
não cumpri. Mas tem uma -talvez a única- que eu cumpri. Eu nunca esqueci você.
Por isso estou aqui, escrevendo-lhe essa carta, que talvez nunca seja enviada,
mas se eu tiver mesmo a coragem de enviar, não se preocupa, não espero uma
resposta. Só queria que você soubesse que depois de todos esses anos, essa
promessa não foi quebrada.